Polícia Civil - Ceará - Delegado de Polícia - Vunesp - 2015 - Prova Objetiva
A morte do narrador
Recentemente recebi um e-mail de uma leitora perguntando a razão de eu ter, segundo ela, uma visão tão dura para com os idosos. O motivo da sua pergunta era eu ter dito, em uma de minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais vovôs e vovós, porque estavam todos na academia querendo parecer com seus netos.
Claro, minha leitora me entendeu mal. Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece com frequência quando se discute o tema da velhice, é comum, principalmente porque o próprio termo “velhice” já pede sinônimos politicamente corretos, como “terceira idade”, “melhor idade”, “maturidade”, entre outros.
Uma característica do politicamente correto é que, quando ele se manifesta num uso linguístico específico, é porque esse uso se refere a um conceito já considerado como algo ruim. A marca essencial do politicamente correto é a hipocrisia articulada como gesto falso, ideias bem comportadas.
Voltando à velhice. Minha leitora entendeu que eu dizia que idosos devem se afundar na doença, na solidão e no abandono, e não procurar ser felizes. Mas, quando eu dizia que eles estão fugindo da condição de avós, usava isso como metáfora da mentira (politicamente correta) quanto ao medo que temos de afundar na doença, antes de tudo psicológica, devido ao abandono e à solidão, típicos do mundo contemporâneo. Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está intimamente associada ao medo do envelhecimento, da dor e da morte. Sua opção é pela “negação”, traço de um dos sintomas neuróticos descritos por Freud.
Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia que na modernidade o narrador da vida desapareceu. Isso quer dizer que as pessoas encarregadas, antigamente, de narrar a vida e propor sentido para ela perderam esse lugar. Hoje os mais velhos querem “aprender” com os mais jovens (aprender a amar, se relacionar, comprar, vestir, viajar, estar nas redes sociais). Esse fenômeno, além de cruel com o envelhecimento, é também desorganizador da própria juventude. Ouço cotidianamente, na sala de aula, os alunos demonstrarem seu desprezo por pais e mães que querem aprender a viver com eles.
Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a combater essa desvalorização dos mais velhos. As ferramentas de informação, normalmente mais acessíveis aos jovens, aumentam a percepção negativa dos mais velhos diante do acúmulo de conhecimento posto a serviço dos consumidores, que questionam as “verdades constituídas do passado”. A própria estrutura sobre a qual se funda a experiência moderna – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a invisibilidade dos mais velhos. Em termos humanos, o passado (que “nada” serve ao mundo do progresso) tem um nome: idoso. Enfim, resta aos vovôs e vovós ir para a academia ou para as redes sociais.
(Luiz Felipe Pondé, Somma, agosto 2014, p. 31. Adaptado)
Segundo o autor, sua leitora o interpretou mal ao supor que as críticas feitas em uma de suas colunas estavam direcionadas aos idosos, quando, na verdade, ele contestava
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a)
a noção de que o idoso pode estar sujeito ao surgimento de doenças. |
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b)
o fato de a ciência moderna ainda se inspirar nos valores do passado. |
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c)
o uso do termo "negação" para designar um dos sintomas neuróticos. |
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d)
a sociedade que supervaloriza a juventude e nega o envelhecimento. |
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e)
os valores do passado, os quais não se ajustam à ideia de progresso. |
Ao explicar por que os idosos "estão fugindo da condição de avós", o autor defende a tese de que o homem moderno tem
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a)
desejo de libertar-se por meio da morte. |
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b)
medo de ser abandonado e ficar só. |
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c)
pretensão de elevar-se pelo sofrimento. |
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d)
nostalgia dos tempos da infância. |
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e)
receio de perder os bens materiais. |
De acordo com o texto, o que contribui para a desvalorização dos mais velhos na sociedade atual são
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a)
o culto à beleza e a falta de tratamento para doenças típicas da velhice. |
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b)
o desprestígio da ciência e a dificuldade dos jovens em aprender com os adultos. |
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c)
a estagnação do progresso e a popularização de termos politicamente corretos. |
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d)
as ferramentas de informação e o questionamento do saber tradicional. |
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e)
o consumismo exagerado e o número reduzido de idosos na sociedade. |
A partir da leitura do quinto parágrafo, conclui-se corretamente que
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a)
o envelhecimento das gerações está cada vez mais precoce, o que se percebe ao se observarem os alunos em sala de aula. |
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b)
a nova geração tem se vangloriado do fato de os mais velhos demonstrarem interesse em aprender com ela. |
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c)
o fato de os mais velhos buscarem se parecer com os mais jovens acarreta um maior afastamento entre as gerações. |
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d)
os jovens estão se transformando em indivíduos fúteis e alienados em virtude da falta de diálogo com os mais velhos. |
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e)
a interação entre diferentes faixas etárias tem se mostrado profícua para a valorização do saber dos idosos. |
Conforme o autor, hoje em dia "resta aos vovôs e vovós ir para a academia ou para as redes sociais", porque
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a)
resolveram contribuir mais ativamente para a sociedade. |
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b)
tendem a ignorar as regras da sociedade de consumo. |
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c)
estão isentos dos sintomas neuróticos da sociedade atual. |
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d)
optaram por negligenciar a convivência em família. |
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e)
perderam seu papel de narrar e de interpretar a vida. |
Considere o trecho do último parágrafo:
Em termos humanos, o passado (que "nada" serve ao mundo do progresso) tem um nome: idoso.
Apresentando entre aspas a palavra nada, o autor
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a)
destaca a opinião de que o idoso já não tem utilidade, para negá-la. |
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b)
mostra sua adesão a uma tese progressista, que não acolhe o idoso. |
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c)
refuta a ideia de que o idoso ainda pode conviver com o progresso. |
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d)
reafirma a opinião de que o idoso não traz novas contribuições. |
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e)
põe em dúvida a ideia de que idosos possam se adaptar à modernidade. |
O termo empregado com sentido figurado está em destaque na seguinte passagem do texto:
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a)
Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece com frequência quando se discute o tema da velhice (segundo parágrafo). |
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b)
O motivo da sua pergunta era eu ter dito, em uma de minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais vovôs e vovós (primeiro parágrafo). |
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c)
Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia que na modernidade o narrador da vida desapareceu. (penúltimo parágrafo). |
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d)
A própria estrutura sobre a qual se funda a experiência moderna ciência, técnica, superação de tradição agrava a invisibilidade dos mais velhos. (último parágrafo). |
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e)
Minha leitora entendeu que eu dizia que idosos devem se afundar na doença, na solidão e no abandono (quarto parágrafo). |
Luiz Felipe Pondé afirma não_____________mais vovôs e vovós como antigamente, já que___________cada vez mais_____________em copiar seus netos.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
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a)
haver ... encontra-se ... empenhados |
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b)
haver ... se encontram ... empenhados |
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c)
haverem ... se encontra ... empenhado |
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d)
haverem ... encontram-se ... empenhados |
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e)
haver ... encontra-se ... empenhado |
Assinale a alternativa em que o emprego das formas verbais está em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa.
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a)
Se esta geração se dispor a ensinar os mais velhos, é possível que eles atualizem suas informações rapidamente. |
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b)
As entidades que propuserem medidas para valorizar os idosos deverão beneficiar o convívio entre as gerações. |
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c)
Precisamos de governantes comprometidos com as reformas que se fazerem necessárias para integrar o idoso à sociedade. |
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d)
Quanto mais se manterem atentos aos ensinamentos dos idosos, mais os jovens perceberão o valor da experiência vivida. |
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e)
A geração atual certamente teria muito a ganhar se reavisse o conhecimento acumulado pelos mais velhos. |
Leia os quadrinhos.
Assinale a alternativa em que fala do palestrante está corretamente reescrita, com o sentido preservado, em linhas gerais, e em conformidade com as normas de regência e de ocorrência da crase.
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a)
Vovôs idealistas, as pessoas com menos de trinta anos não se deve dar confiança. |
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b)
Vovôs idealistas, desconfiem a qualquer um com menos de trinta anos. |
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c)
Vovôs idealistas, recusem-se à confiar em quem tiver menos de trinta anos. |
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d)
Vovôs idealistas, à indivíduos com menos de trinta anos não se deve confiar. |
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e)
Vovôs idealistas, não deem confiança àqueles com menos de trinta anos. |