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Comentários / UFU - Universidade Federal de Uberlândia - Técnico em Saúde Bucal - UFU - Universidade Federal de Uberlândia - 2013 - Prova Objetiva


Antenas da sociedade

            Após pouco mais de seis décadas de existência, a televisão brasileira ostenta 
       condições peculiares: sofisticação técnica, forte presença na cultura, agência de porte
       na vida econômica e política e - aqui começa o problema - elevada capacidade de 
       manutenção, quando não de consolidação, de um padrão organizacional e de 
5     funcionamento construído em grande medida num período marcado pela 
       concentração do poder político e econômico.
            A situação tem algo de paradoxal. Um quarto de século após a Constituição 
       que marcou a nova etapa democrática da vida nacional, a organização do sistema de 
       veículos de comunicação brasileiro é mais marcada pelo gigantismo e pela 
10   concentração empresarial do que no início da nova etapa. Não há como fugir à 
       evidência de que esse é o grande problema que as políticas da comunicação e da 
       cultura terão de enfrentar com mais força daqui pra frente. Esse é o pano de fundo 
       que dá sentido a todo esforço que fizermos para caracterizar a natureza desse “meio” 
       de comunicação, que há muito deixou de ser meio no sentido de veículo de 
15   mensagens para converter-se em meio no sentido de ambiente que fornece 
       enquadramento para a vida das pessoas.
            Talvez um bom ponto de partida consista em examinar melhor a capacidade 
       que acabei de atribuir à televisão, a de funcionar como um “ambiente” de vida. Seu 
       nome altissonante esconde a fragilidade de um meio dependente de um sentido 
20   direcional como a visão. Por maiores que sejam seus avanços técnicos, a TV não tem 
       como dispensar a técnica do rádio e joga boa parte do seu esforço no áudio. A 
       questão é: feitas as pazes com o rádio e o cinema, que já se apresentavam prontos e 
       com perfil bem definido quando a TV nasceu, como ficam as tecnologias mais 
       recentes, às quais ela agora tem de se adaptar, em especial se considerarmos que 
25   essas tecnologias de última geração condensam em si todas as características das 
       anteriores? De certo modo a resposta já foi antecipada: trata-se de uma questão de 
       adaptação mais do que de incorporação ou apropriação, como já ocorreu com o 
       cinema e o rádio. E nisso a televisão tem se revelado um meio técnico altamente 
       eficiente no uso, como recurso na produção e como plataforma na distribuição, das 
30   novas conquistas informáticas. No entanto, ela não se transforma por dentro, no modo 
       como organiza as mensagens que transmite, nem dá sinais de que vá ser incorporada 
       por tecnologias mais recentes. Em suma, a televisão será capaz de manter a iniciativa 
       na formatação do espaço simbólico no qual se movem as pessoas - leia-se, seus 
       consumidores? Continuará a atrair e manter consumidores da sua programação, ou 
35   seja, continuará a programar amplos segmentos da vida de grandes setores da 
       sociedade? Tudo indica que ela tem poder e flexibilidade para permanecer um bom 
       tempo entre nós, fazendo aquilo que sempre soube fazer, que é captar energias no 
       entorno para desenvolvê-las organizadas em programas.
            O que afinal sustenta a televisão em posição tão firme no complexo de meios 
40   de comunicação? A resposta é de ordem organizacional: trata-se do caráter 
       compactamente controlado que ela assumiu no confronto com os outros meios no 
       complexo da indústria cultural ao longo do século XX, com desdobramentos atuais. A 
       boa e velha indústria cultural tem na televisão seu último bastião.
            Avanços na tecnologia da comunicação não envolvem a substituição dos meios 
45   mais antigos pelos mais novos. Estes simplesmente incorporam ao seu padrão próprio 
       os recursos fornecidos pelos anteriores. Imprensa, rádio, cinema, televisão e redes 
       digitais seguem essa linha. Mas a entrada no complexo das comunicações de novos 
       ramos exige uma reconfiguração que necessariamente afeta aquele cuja posição era 
       solidamente central.
50        Por mais que se revele capaz de incorporar traços básicos do universo on-line, 
       a televisão fica exposta ao novo padrão de “divisão do trabalho” que se cria com a 
       expansão do sistema, formado por uma imprensa ultra concentrada e apta a não só 
       selecionar como a carimbar os eventos ditos importantes, atribuindo-lhes marcas de 
       fácil identificação.
55        A televisão vem se revelando capaz de manter seus traços básicos, pois 
       combina uma radiofonia dispersa, mas muito presente e com alto grau de 
       disseminação e inculcação de temas e conteúdos, e uma ampla e multifacetada rede 
       digital com sinais de crescente concentração e controle; e busca reorientar seu espaço 
       nisso.
60        Longe de estar desatenta aos grandes movimentos da sociedade e de desviar 
       a atenção deles, a televisão, mais do que qualquer outro meio, empenha-se em 
       detectar as tendências emergentes e em capturá-las ao seu modo na programação. 
       Neste sentido, nada tem de marcadamente “conservadora”. Está sempre um passo, 
       mas nunca mais do que um passo, à frente das massas. Nisso, ela tem foco 
65   específico: capta os sinais da emergência de novos grupos no mercado e 
       imediatamente os projeta na programação, ganhando com isso a iniciativa na 
       definição social das suas novas identidades, desde logo como consumidores “de tudo, 
       incluindo programação de TV”. Mulheres, idosos “para não falar das indefectíveis 
       crianças” e grupos étnicos de todo tipo são capturados nesse processo que não é de 
70   ajuste puro e simples ao mundo que já está dado, mas de preparação “seletiva” àquilo 
       que se anuncia para vir. É prospectiva e atuante com relação às tendências que 
       reforçarão o cenário no qual ela prospera, e nisso reside o principal segredo da sua 
       vitalidade e longevidade.
            Entretanto, o traço característico mais importante na televisão revela-se na 
75   decisiva conversão, que se deu ao longo da sua história, de meio no sentido de 
       veículo de mensagens e programas para meio no sentido de ambiente de vida, de 
       atmosfera em cujo interior se movem os homens. A imprensa nunca fez isso, nem se 
       propôs a tanto.
            A televisão é envolvente, mas de modo incompleto, insaturado. A questão é 
80   sua organização como centro de poder econômico e político, mais do que cultural. E 
       aqui entramos no jogo aberto dos interesses, das reivindicações e da capacidade de 
       organização – um jogo que mal começou a ser jogado entre nós.

COHN, Gabriel. Le Monde Diplomatique Brasil. Mar. 2003, p. 7-8 (Adaptado).

Questão:

[...] feitas as pazes com o rádio e o cinema, que já se apresentavam
prontos e com perfil bem definido quando a TV nasceu, como ficam as 
tecnologias mais recentes, às quais ela agora tem de se adaptar, em 
especial se considerarmos que essas tecnologias de última geração 
condensam em si todas as características das anteriores? (linhas 22-26),

A alternância dos tempos verbais, no trecho acima, tem por objetivo

Resposta errada
a)

contrapor algo já ocorrido, a fim de servir como argumento para novas evidências.

Resposta errada
b)

evidenciar as diferenças existentes entre o rádio e o cinema e as novas tecnologias.

Resposta correta
c)

demonstrar que os fatos ocorridos se relacionam diretamente com os atuais.

Resposta errada
d)

questionar o papel das novas tecnologias e sua relação com os meios de comunicação que as antecederam.

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