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Informações da Prova Questões por Disciplina BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - Analista de Sistemas - Desenvolvimento de Sistemas - AOCP (Assessoria em Organização de Concursos Públicos Ltda.) - 2012 - Prova Objetiva

Interpretação de Textos

Condenados à tradição - O que fizeram com a poesia brasileira - Lumna Maria Simon

     Por um desses quiproquós da vida cultural, a tradicionalização, ou a referência à tradição, tornou-se um tema dos mais presentes na poesia contemporânea brasileira, quer dizer, a que vem sendo escrita desde meados dos anos 80.

     Pode parecer um paradoxo que a poesia desse período, a mesma que tem continuidade com ciclos anteriores de vanguardismo, sobretudo a poesia concreta, e se seguiu a manifestações antiformalistas de irreverência e espontaneísmo, como a poesia marginal, tenha passado a fazer um uso relutantemente crítico, ou acrítico, da tradição. Nesse momento de esgotamento do moderno e superação das vanguardas, instaura-se o consenso de que é possível recolher as forças em decomposição da modernidade numa espécie de apoteose pluralista. É uma noção conciliatória de tradição que, em lugar da invenção de formas e das intervenções radicais, valoriza a convencionalização a ponto de até incentivar a prática, mesmo que metalinguística, de formas fixas e exercícios regrados.

     Ainda assim, não se trata de um tradicionalismo conservador ou "passadista", para lembrar uma expressão do modernismo dos anos 20. O que se busca na tradição não é nem o passado como experiência, nem a superação crítica do seu legado. Afinal, não somos mais como T. S. Eliot, que acreditava no efeito do passado sobre o presente e, por prazer de inventar, queria mudar o passado a partir da atualidade viva do sentimento moderno. Na sua conhecidíssima definição da tarefa do poeta moderno, formulada no ensaio "Tradição e talento individual", tradição não é herança. Ao contrário, é a conquista de um trabalho persistente e coletivo de autoconhecimento, capaz de discernir a presença do passado na ordem do presente, o que, segundo Eliot, define a autoconsciência do que é contemporâneo.

     Nessa visada, o passado é continuamente refeito pelo novo, recriado pela contribuição do poeta moderno consciente de seus processos artísticos e de seu lugar no tempo. Tal percepção de que passado e presente são simultâneos e inter-relacionados não ocorre na ideia inespecífica de tradição que tratarei aqui. O passado, para o poeta contemporâneo, não é uma projeção de nossas expectativas, ou aquilo que reconfigura o presente. Ficou reduzido, simplesmente, à condição de materiais disponíveis, a um conjunto de técnicas, procedimentos, temas, ângulos, mitologias, que podem ser repetidos, copiados e desdobrados, num presente indefinido, para durar enquanto der, se der.

     Na cena contemporânea, a tradição já não é o que permite ao passado vigorar e permanecer ativo, confrontando-se com o presente e dando uma forma conflitante e sempre inacabada ao que somos. Não implica, tampouco, autoconsciência crítica ou consciência histórica, nem a necessidade de identificar se existe uma tendência dominante ou, o que seria incontornável para uma sociedade como a brasileira, se as circunstâncias da periferia pós-colonial alteram as práticas literárias, e como.

     Não estou afirmando que os poetas atuais são tradicionalistas, ou que se voltaram todos para o passado, pois não há no retorno deles à tradição traço de classicismo ou revivalismo. Eles recombinam formas, amparados por modelos anteriores, principalmente os modernos. A tradição se tornou um arquivo atemporal, ao qual recorre a produção poética para continuar proliferando em estado de indiferença em relação à atualidade e ao que fervilha dentro dela.

     Até onde vejo, as formas poéticas deixaram de ser valores que cobram adesão à experiência histórica e ao significado que carregam. Os velhos conservadorismos culturais apodreceram para dar lugar, quem sabe, a configurações novas e ainda não identificáveis. Mesmo que não exista mais o "antigo", o esgotado, o entulho conservador, que sustentavam o tradicionalismo, tradição é o que se cultua por todos os lados.

     Na literatura brasileira, que sempre sofreu de extrema carência de renovação e variados complexos de inferioridade e provincianismo, em decorrência da vida longa e recessiva, maior do que se esperaria, de modas, escolas e antiqualhas de todo tipo, essa retradicionalização desculpabilizada e complacente tem inegável charme liberador.

Revista Piauí, edição 61, 2011.

1 -

"Mesmo que não exista mais o "antigo", o esgotado, o entulho conservador, que sustentavam o tradicionalismo, tradição é o que se cultua por todos os lados." (7.° parágrafo)

No fragmento acima:

a)

o autor apresenta relação de causa e consequência entre o fato de não haver mais o "antigo", o esgotado o entulho conservador e haver a presença recorrente da tradição.

b)

o autor conclui sua ideia principal, a de que a tradição é cultuada por todos os lados e supera o "antigo", o esgotado, o entulho conservador, traços que sustentam o tradicionalismo.

c)

é apresentado um contraste entre as ideias expressas, ou seja, a tradição é cultuada por todos os lados, ainda que o "antigo", o esgotado, o entulho conservador não existam mais.

d)

o autor expressa a alternância entre os gostos dos literatos, que cultuam tanto o tradicionalismo quanto o "antigo", o esgotado e o entulho conservador da literatura tradicional.

e)

é apresentada uma justificativa para o fato de haver uma co-ocorrência tanto do "antigo", do esgotado, do entulho conservador quanto da tradição, que é cultuada por todos os lados.

2 -

Assinale a alternativa correta quanto ao que se afirma sobre os elementos linguísticos empregados no texto.

a)

O emprego do sinal indicativo de crase no “a”, na expressão “a produção poética” (6.º parágrafo), não altera a correção gramatical.

b)

No fragmento “Não implica, tampouco, autoconsciência crítica” (5.º parágrafo), o emprego da preposição “em” antes da expressão “autoconsciência” não altera a correção gramatical.

c)

A substituição da expressão “tampouco” (5.º parágrafo) pela expressão “todavia” não altera a correção gramatical e o sentido original do texto.

d)

A forma verbal “exista” (7.º parágrafo) pode ser flexionada no plural para concordar com a expressão “o antigo, o esgotado, o entulho conservador.”

e)

A expressão “onde”, em “Até onde vejo, as formas poéticas deixaram” (7.º parágrafo), pode ser substituída por “aonde”, sem alterar a correção gramatical.

Resolução da Equipe Tecnolegis:

Alternativa que trata da diferença entre "onde" e "aonde":

Onde: "em que lugar" (trata-se de local determinado).

Aonde: "para qual lugar" (transmite a ideia de movimento).

Logo, é correto concluir que a expressão em análise é um ponto demarcado, definido como limite, como parâmetro que dimensiona o alcance de "visão", tratando-se, portanto, de um ponto ou local determinado. 

Emprego dos tempos e modos verbais
3 -

Assinale a alternativa cuja sequência verbal destacada constitui um exemplo de tempo composto.

a)

“Não estou afirmando que os poetas atuais são tradicionalistas”

b)

“...um arquivo atemporal, ao qual recorre a produção poética para continuar proliferando

c)

“as formas poéticas  deixaram de ser valores que  cobram adesão à experiência histórica”

d)

Pode parecer um paradoxo que a poesia desse  período, a mesma que tem continuidade”

e)

tenha passado a fazer um uso relutantemente crítico,  ou acrítico, da tradição".

Pronomes: Emprego, Formas de Tratamento e Colocação
4 -

Nos fragmentos abaixo, extraídos do texto, a colocação pronominal foi alterada. Assinale a única alternativa correta.

a)

Ou que voltaram-se todos para o passado (6.º parágrafo)

b)

Maior do que esperaria-se (último parágrafo)

c)

Tradição é o que cultua-se por todos os lados. (7.º parágrafo)

d)

E seguiu-se a manifestações antiformalistas (2.º parágrafo)

e)

Não trata-se de um tradicionalismo conservador (3.º parágrafo)

Sintaxe da Oração e do Período
5 -

“Não implica, tampouco, autoconsciência crítica ou consciência histórica, nem a necessidade de identificar se existe uma tendência” (5.° parágrafo)

No fragmento acima, as orações de identificar e se existe uma tendência são, respectivamente,

a)

oração subordinada substantiva objetiva direta e oração subordinada substantiva objetiva direta.

b)

oração subordinada substantiva completiva nominal e oração subordinada substantiva objetiva direta.

c)

oração subordinada substantiva objetiva indireta e oração subordinada adverbial condicional.

d)

oração subordinada substantiva completiva nominal e oração subordinada adverbial condicional.

e)

oração subordinada substantiva objetiva indireta e oração subordinada substantiva objetiva direta.

Interpretação de Textos
6 -

O autor do texto apresentado define os poetas atuais como aqueles que

a)

apresentam traços classicistas ou revivalistas.

b)

se voltaram para o passado em busca de modelos.

c)

são tradicionalistas que misturam traços modernistas.

d)

recombinam formas, amparados por modelos anteriores.

e)

veem a tradição como uma escolha de materiais disponíveis.

Compreensão e Interpretação de Textos
7 -

Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela cujas expressões são empregadas no texto como expressões sinônimas.

a)

“velhos conservadorismos culturais” e “tendência dominante”

b)

“configurações novas e ainda não identificáveis” e “a poesia concreta”

c)

“configurações novas e ainda não identificáveis” e “apoteose pluralista”

d)

“apoteose pluralista” e “noção conciliatória de tradição”

e)

“a poesia concreta” e “noção conciliatória de tradição”

Ortografia e Semântica
8 -

Por um desses quiproquós da vida cultural, a tradicionalização, ou a referência à tradição, tornou-se um tema dos mais presentes na poesia contemporânea brasileira, quer dizer, a que vem sendo escrita desde meados dos anos 80.”

O fragmento em que o elemento por (ou pelo/pela) estabelece a mesma relação semântica do elemento por do fragmento acima é

a)

“Nessa visada, o passado é continuamente refeito pelo novo” (4.º parágrafo)

b)

“sustentavam o tradicionalismo, tradição é o que se cultua por todos os lados” (7.º parágrafo)

c)

“Eles recombinam formas, amparados por modelos anteriores”” (6.º parágrafo)

d)

“pela contribuição do poeta moderno consciente de seus processos artísticos”” (4.° parágrafo)

e)

“por prazer de inventar, queria mudar o passado a partir da atualidade viva” (3.º parágrafo)

Pontuação
9 -

Todos os fragmentos abaixo foram extraídos do texto e alterados em sua pontuação. Leia-os e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta o(s) fragmento(s) que se mantém(êm) correto(s) após essa alteração.

I. Não é uma projeção de nossas expectativas ou aquilo que reconfigura o presente (4.º parágrafo)

II. Afinal, não somos mais como T. S. Eliot que acreditava no efeito do passado (3.º parágrafo)

III. Ficou reduzido, simplesmente, à condição de materiais disponíveis a um conjunto de técnicas (4.º parágrafo)

Está(ão) correto(s)

a)

apenas I.

b)

apenas II.

c)

apenas III.

d)

apenas I e II.

e)

apenas II e III.

10 -

Assinale a alternativa correta quanto ao que se afirma abaixo.

a)

Em “A tradição se tornou um arquivo atemporal ao qual recorre a produção poética (6.º parágrafo)””, o pronome relativo funciona como objeto direto.

b)

Em ““as circunstâncias da periferia pós-colonial alteram as práticas literárias, e como.”” (5.º parágrafo), a vírgula pode ser retirada sem prejuízo ao texto.

c)

Em “A tradição se tornou um arquivo atemporal”” (6.° parágrafo), o pronome também pode ser colocado após a forma verbal, visto que se trata de verbo com sujeito explícito.

d)

Em “é possível recolher as forças em decomposição da modernidade”” (2.° parágrafo), a oração destacada é subordinada substantiva subjetiva.

e)

Em “ideia inespecífica de tradição que tratarei aqui”” (4.° parágrafo) e em “aquilo que reconfigura o presente” (4.° parágrafo), os pronomes relativos destacados têm a mesma função sintática.

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