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Comentários / DEGASE - Departamento Geral de Ações Socioeducativas - Técnico de Suporte e Comunicação - TI - CEPERJ - 2012 - Prova Objetiva


A NOVA RIQUEZA DOS POBRES

                                  Dezembro é o mês das compras, como maio é o das noivas,
             agosto é o do desgosto, junho é o das fogueiras e fevereiro é o do
             Carnaval. Os estudantes aguardam dezembro como o mês das
             férias; as crianças, como o do Natal. Para os trabalhadores, é o
5           mês em que eles pensam que estão mais ricos.

                                 Recebem o 13.o salário ou parte dele — e compram. A verdade
             é que já há algum tempo vêm se sentindo menos pobres, vêm
             comprando.

                                 Compram de tudo. Um compra geladeira nova porque a velha,
10         bom, gelar ela gelava direitinho, mas gastava muita energia. Outro
             compra televisão nova porque a velha não tem tela plana de LCD,
             42 polegadas, e a vizinha pensa que é melhor do que a gente só
             porque comprou uma de 36 polegadas. Compram DVD, celular
             para a filha adolescente, forno de micro-ondas, MP3, 4, 5, freezer,
15        videogames, fogão novo, carro. Qual é a mágica? É a prestação
             que “cabe no bolso”.

                                Perdiam dinheiro para a inflação, agora perdem para os juros.
             Em vez de guardarem o dinheiro por seis meses e comprarem à
             vista com desconto, preferem parcelar em doze meses e pagar o
20        dobro, ou em 24 meses e pagar o triplo. Ficam na mão de espertos,
             aqueles que lucravam com especulações de curto prazo durante a
             grande inflação e agora lucram financiando prestações. Os novos
             compradores não fazem essa conta. Cabendo no orçamento do
             mês, pagam. Querem se sentir parte da grande nação de consu-
25        midores, participar da vida colorida dos anúncios da televisão, es-
             quecer por um momento que não têm escola, atendimento médico,
             transporte, esgoto, segurança...

                                 O marido da senhora que faz limpeza na casa de uma amiga
             esteve desempregado quase um ano. Como não tem nenhum pre-
30         paro técnico, integrava a turma do bico. Arranjou emprego e, no dia
             do primeiro pagamento, ele e a mulher compraram uma geladeira
             nova. Três meses depois, ele estava desempregado outra vez, de
             volta ao bico. Não se abalaram. O que importa para eles é que
             a geladeira está em casa há quatro meses e estão conseguindo
35         pagar, seguem tocando a vida.

                              — Se nós não tivesse comprado a geladeira, não ia comprar
             nunca — diz ela, otimista, bebendo sua água geladinha e mantendo
             protegido o leite das crianças.

                               Essa atitude otimista acontece em um momento crítico para o
40         trabalhador no mundo. Caem os investimentos e o comércio entre
             as nações. As indústrias investem em processos de produção
             que rendem mais e custam menos. Novas tecnologias provocam
             dispensas, e não só por lá. Resulta o que se poderia chamar de
             globalização do olho da rua.

45                        Mais de 200 milhões de trabalhadores formais perderam o
             emprego no mundo, segundo a Organização Internacional do Tra-
             balho; quase 1 bilhão de pessoas em condições de trabalhar não
             encontram vagas, 700 milhões vivem de expedientes, se virando.
             É a globalização do bico. Milhões sem conta não conseguem nem
50        se virar. É a globalização do dane-se.

                            Os temores que a crise lá de fora desperta nos analistas e alar-
             mistas daqui parecem não atingir os moradores das áreas carentes
             das grandes cidades brasileiras. É fantástica a capacidade que eles
             têm de acreditar no melhor, em meio à incerteza.

55                       Se alguma conclusão se pode tirar da ingênua tendência
             compradora daqueles que têm tão pouco, é a de que ela nasce de
             um incompreensível otimismo — incompreensível para nós, ator-
             mentados da classe média. Ao redor deles pipocam dificuldades,
             mas eles, confiantes, jogam com o destino como se ele fosse uma
60         MegaSena que um dia vai dar.

(Ivan Angelo, Veja SP, 14/12/2011)

Questão:

De acordo com a leitura do texto, pode-se dizer que o título –- "“A nova riqueza dos pobres"” -– é irônico porque:

Resposta correta
a)

A riqueza corresponde, na verdade, a uma capacidade de endividamento

Resposta errada
b)

A pobreza constitui, na sociedade atual, uma condição insuperável

Resposta errada
c)

Os consumidores podem, ao longo do tempo, acumular dinheiro

Resposta errada
d)

Os trabalhadores vivem, em nossos dias, uma euforia de consumo

Resposta errada
e)

A globalizaçao trouxe, para todas as classes, um certo empobrecimento

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