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Comentários / Superior Tribunal de Justiça - STJ - Analista Judiciário - Judiciária - CESPE - UnB - 2012 - Prova Objetiva


A matéria da materialidade: como localizar a biblioteca de Alexandria?

1 		Fundada por Ptolomeu Filadelfo, no início do século III
	a.C., a biblioteca de Alexandria representa uma epígrafe perfeita
	para a discussão sobre a materialidade da comunicação. As
4 	escavações para a localização da biblioteca, sem dúvida um dos
	maiores tesouros da Antiguidade, atraíram inúmeras gerações de
	arqueólogos. Inutilmente. Tratava-se então de uma biblioteca
7 	imaginária, cujos livros talvez nunca tivessem existido? Persistiam,
	contudo, numerosas fontes clássicas que descreviam o lugar em que
	se encontravam centenas de milhares de rolos. E eis a solução do
10 	enigma. O acervo da biblioteca de Alexandria era composto por
	rolos e não por livros — pressuposição por certo ingênua, ou seja,
	atribuição anacrônica de nossa materialidade para épocas diversas.
13 	Em vez de um conjunto de salas com estantes dispostas
	paralelamente e enfeixadas em um edifício próprio, a biblioteca de
	Alexandria consistia em uma série infinita de estantes escavadas nas
16 	paredes da tumba de Ramsés. Ora, mas não era essa a melhor forma
	de colecionar rolos, preservando-os contra as intempéries? Os
	arqueólogos que passaram anos sem encontrar a biblioteca de
19 	Alexandria sempre a tiveram diante dos olhos, mesmo ao alcance
	das mãos. No entanto, jamais poderiam localizá-la, já que não
	levaram em consideração a materialidade dos meios de comunicação
22	dominante na época: eles, na verdade, procuravam uma biblioteca
	estruturada para colecionar livros e não rolos. Quantas bibliotecas
	de Alexandria permanecem ignoradas devido à negligência com a
25 	materialidade dos meios de comunicação?
		O conceito de materialidade da comunicação supõe a
	reconstrução da materialidade específica mediante a qual os valores
28 	de uma cultura são, de um lado, produzidos e, de outro,
	transmitidos. Tal materialidade envolve tanto o meio de
	comunicação quanto as instituições responsáveis pela reprodução da
31 	cultura e, em um sentido amplo, inclui as relações entre meio de
	comunicação, instituições e hábitos mentais de uma época
	determinada. Vejamos: para o entendimento de uma forma particular
34 	de comunicação — por exemplo, o teatro na Grécia clássica ou na
	Inglaterra elizabetana; o romance nos séculos XVIII e XIX; o
	cinema e a televisão no século XX; o computador em nossos dias
37 	—, o estudioso deve reconstruir tanto as condições históricas quanto
	a materialidade do meio de comunicação. Assim, no teatro, a voz e
	o corpo do ator constituem uma materialidade muito diferente da
40 	que será criada pelo advento e difusão da imprensa, pois os tipos
	impressos tendem, ao contrário, a excluir o corpo do circuito
	comunicativo. Já os meios audiovisuais e informáticos promovem
43 	um certo retorno do corpo, mas sob o signo da virtualidade.
	Compreender, portanto, como tais materialidades influem na
	elaboração do ato comunicativo é fundamental para se entender
46 	como chegam a interferir na própria ordenação da sociedade.

João C. de C. Rocha. A matéria da materialidade: como localizar a biblioteca de Alexandria? In: João C. de C. Rocha (Org.).

Interseções: a materialidade da comunicação. Rio de Janeiro: Imago; EDUERJ, 1998, p. 12, 14-15 (com adaptações).

Questão:

Com relação às ideias e estruturas linguísticas do texto, julgue o item a seguir.

De acordo com o texto, após muitos anos de pesquisa frustrada, baseada em pressupostos culturais equivocados, os arqueólogos encontraram as ruínas da biblioteca de Alexandria e os rolos que constituíam seu acervo.

Resposta errada
Certa.
Resposta correta
Errada.

Comentários

- 15/09/2015 / 08:07

A biblioteca não foi encontrada em ruínas, mas sim, estruturada de forma totalmente diferente do que os arqueólogos haviam imaginado.

O trecho do texto mostra isso:

"Em vez de um conjunto de salas com estantes dispostas paralelamente e enfeixadas em um edifício próprio, a biblioteca de
Alexandria consistia em uma série infinita de estantes escavadas nas paredes da tumba de Ramsés."

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