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Comentários / Polícia Civil - Distrito Federal - Agente de Polícia - Fundação Universa - 2009 - Prova Objetiva


Razão e Fé: As Limitações na Percepção Social da Ciência.

 

Texto I, para responder à(s) questão(ões):

1      Ao mesmo tempo, ressurge a oposição razão e fé, 

        que parecia remota. O país mais desenvolvido do mundo, 

        aquele em que a ciência e a tecnologia mais contribuem para 

4      gerar riqueza, é também —  entre as poucas dezenas de 

        nações que se situam no pelotão de frente da economia e do 

        conhecimento — aquele em que a maior parte da população 

7      acredita exatamente naquilo que não dispõe de base 

        científica alguma. Em nenhum país, o criacionismo é tão forte 

        quanto nos Estados Unidos. No entanto, inexiste qualquer 

10    fundamento científico para ele. Temos, assim, ali onde a 

        interação entre o conhecimento científico e a economia 

        constrói a massa de sucesso mais forte da história, uma 

13    profunda descrença, ou ignorância, da população a respeito 

        daquilo que constitui a base mesma de seu êxito — ou a 

        base mesma de sua prática.  

16    Faz-se nos Estados Unidos o maior volume de 

        ciência do mundo. O trabalho, nos Estados Unidos, é — em 

        termos absolutos — incomparavelmente mais marcado pelo 

19    conhecimento científico do que em qualquer outro país do 

        mundo, e, em termos relativos, dividido pela população, essa

        sua qualificação superior também ocupa posição de 

22    destaque. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, a agenda 

        pública comporta uma adesão a superstições, a crenças que 

        a ciência moderna desmontou. Ou seja, eles são o país que 

25    melhor mostra um duplo papel da ciência, a exigir um 

        balanço sério e medidas audazes: ela muitas vezes aprimora 

        nosso fazer, mas é impotente para melhorar o nosso agir. A 

28    ciência é incorporada, como tecnologia e mesmo como

        inovação, nas fábricas, nas plantações, nos serviços, mas a 

        teoria que nela está, a semente de inquietação e de

31    inteligência que nela pulsa, não chega à consciência dos 

        milhões e talvez bilhões de pessoas que dela fazem  uso. 

        Usa-se a ciência, aprende-se com os resultados da ciência, 

34    mas o espírito científico — ou os inúmeros e conflitantes 

        espíritos científicos — se defrontam  com mentes 

        impermeáveis a seu trabalho de erosão de mitos e de 

37    construção de um mundo diferente.  

        É preciso explorar um pouco a diferença, que vem 

        dos filósofos gregos mas que foi bem rememorada por

40    Hannah Arendt, entre  fazer e  agir. A fabricação é o modo 

        pelo qual os modernos concebem o mundo da prática. Esta 

        perde uma dimensão que era forte entre os antigos,  à qual 

43    chamaremos aqui agir: o mundo humano é o da práxis. Nele 

        se praticam atos que têm o homem como autor e como 

        destinatário, como sujeito e como objeto. Por isso mesmo, o 

46    homem nunca é puro sujeito nem mero objeto, quando lida

        com seu próximo: ele tem, neste último, alguém que lhe pode 

        retrucar, que pode protestar contra o que ele diz ou faz. No 

49    entanto, o segredo da modernidade consistiu em  uma 

        mudança dessa relação. Dizendo de outro modo, a Idade 

        Média cede lugar à Renascença quando a oposição entre vita 

52    activa e vita contemplativa, entre  negotium e  otium é 

        substituída por outros papéis. Com efeito, os humanistas 

        discutem se é preferível a vida contemplativa do sábio ou do 

55    cientista, que prefere um otium (geralmente  cum dignitate

        que lhe permita almejar a paz interna e a verdade do mundo 

        exterior, ou a vida ativa de quem se debruça sobre  os 

58    negócios da cidade e contribui para construir uma sociedade 

        melhor. 

        Exemplar desse debate é a primeira parte da Utopia

61    de Thomas Morus, como se sabe escrita depois da segunda 

        parte. Nesta última, expõe-se como seria a ilha de Utopia, o 

        primeiro regime “comunista” do mundo moderno. Na primeira 

64    parte, porém, redigida um ano após a segunda, dá-se um 

        contexto para aquela exposição. Aparentemente, o contexto 

        fica aquém do texto, a moldura é menos que a pintura. 

67    Quando se fala da Utopia, costuma-se citar, da primeira 

        parte, a passagem terrível em que, criticando a apropriação 

        privada e desigual  das antigas terras comunais para a 

70    pastagem de carneiros, afirma-se que estes últimos, de 

        animais inocentes, se tornaram devoradores de homens — a 

        primeira crítica filosófica às enclosures, que mudaram a 

73    paisagem inglesa e as relações sociais nos séculos  que 

        precedem a Renascença e que a ela sucedem; e também, da 

        mesma parte, a crítica generalizada ao dinheiro e a seu 

76    poder; enquanto, da segunda parte, se reflete sobre a 

        proposta de uma sociedade  utópica (de Utopia, literalmente 

        “nenhum lugar”), banhada por um rio sem água (Anidro é seu 

79    nome) e relatada pelo português Rafael  Hitlodeu (“autor de 

        disparates”), mas talvez, dizem alguns,  eutópica (“lugar 

        belo”). Mas o que nos interessa aqui é outro ponto.  

82    O que se debate na primeira parte é se o intelectual 

        deve participar da coisa pública, ajudando a melhorar a vida 

        dos outros, ou se esse empenho seria inútil e o que melhor 

85    lhe convém é a contemplação: não mais a das verdades 

        celestiais, mas a da tolice humana. Desse rico assunto, o que 

        aqui nos interessa é a  substituição moderna da vida 

88    contemplativa e do otium por outro tipo de vida. Mas essa 

         não é a reedição da vida ativa ou do  negotium, embora 

        pareça com frequência constituir sua caricatura. Pois ao 

91    negotium, que era o cuidado com a coisa pública, sucede o 

        negócio, que é o business, o desinteresse pela res publica

        a animação com a vida privada do empreendedor ou 

94    empresário. Daí, também, que a vida ativa se reduza, na 

        verdade, a um fazer interminável. Para o homem do otium, do 

        lazer inteligente, a práxis já era algo sem muita condição de 

97    se realizar; mas, em seu lugar, o que vem agora é um fazer, 

        um fabricar, um produzir. A produção típica do otium era uma 

        autoprodução. Consistia em os humanos se construírem pela 

100  reflexão e, eventualmente, pelo diálogo. O mesmo valia em 

        certa medida para o negotium: este consistia em os humanos 

        se construírem pela práxis (em) comum. Mas a produção 

103  típica do business é uma produção externa, em que, em vez 

        de cada um construir sua humanidade laboriosamente, ou de 

        em suas relações ela se constituir, o que se faz e fabrica são 

106  objetos externos, nos quais se projeta uma caricatura do 

        fazer humano. 

[...] 

        Em que medida o conhecimento científico aprimora 

109  o sentido ético das pessoas, os valores que elas assumem? 

        Sem dúvida, podemos dizer que o domínio da razão e o da fé 

        são distintos; que um cientista racionalíssimo em seu 

112  laboratório pode, perfeitamente, orar e adorar a Deus; mas 

        não é disso que se trata. O cientista racional, se  não for 

        esquizofrênico, considerará em sua atividade científica 

115  alguns valores essenciais que se ligam a sua religião -

        buscará ser bom, compassivo, seja o que for. Da mesma 

        forma, o religioso culto, ainda que aceite que em sua religião 

118  - como em qualquer outra - há algo incompreensível, 

        levará em conta em sua ação o que aprendeu com a ciência 

        e com os avanços de nosso conhecimento. O problema é que 

121  esse diálogo, que parece travar-se entre os cultos, não afeta 

        ou afeta pouco as massas sociais. Estas se beneficiam dos 

        ganhos científicos no plano do fazer, mas ignoram-nos quase 

124  por completo no plano do agir. 

Renato Janine Ribeiro. Internet: <http://www.cres2008.org/upload/documentos 

Publicos/tendencia/Tema02/Renato%20Janine%20Ribeiro.doc> 

(com adaptações). Acesso em 20/1/2009

 

Questão:

Na linha 17, as vírgulas que isolam "nos Estados Unidos" são provocadas pelo(a):

Resposta correta
a)

inserção da expressão de natureza adverbial.

Resposta errada
b)

opção estilística do autor.

Resposta errada
c)

necessidade de enfatizar o nome do país.

Resposta errada
d)

deslocamento do sujeito.

Resposta errada
e)

obrigação de indicar o deslocamento de uma função sintática na ordem direta.

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