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Comentários / Prefeitura de Esperança - PB (Prefeitura Municipal de Esperança) - Procurador Jurídico - FACET (FACET Concursos) - 2016


Texto I

Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda à questão a ele referente.

É ético fazer a cabeça de nossos alunos?

  Alguns dos livros de história mais usados nas escolas brasileiras carregam na ideologia, que divide o mundo entre os capitalistas malvados e os heróis da resistência As aulas voltaram, por estas semanas, e decidi tirar a limpo uma velha questão: há ou não doutrinação ideológica em nossos livros didáticos? Para responder à pergunta, analisei alguns dos livros de história e sociologia mais adotados no país. Entre os dez livros que analisei, não encontrei, infelizmente, nenhum ?pluralista? ou particularmente cuidadoso ao tratar de temas de natureza política ou econômica.
  O viés político surge no recorte dos fatos, na seleção das imagens, nas indicações de leituras, de filmes e de links culturais. A coisa toda opera à moda Star wars: o lado negro da força é a ?globalização neoliberal?. O lado bom é a ?resistência? do Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, e dos ?movimentos sociais?. No Brasil contemporâneo, Fernando Henrique Cardoso é Darth Vader, Lula é Luke Skywalker.

  No livro Estudos de história, da Editora FTD, por exemplo, nossos alunos aprenderão que Fernando Henrique era neoliberal (apesar de ?tentar negar?) e seguiu a cartilha de Collor de Melo; e que os ?resultados dessas políticas foram desastrosos?. Em sua época, havia ?denúncias de subornos, favorecimentos e corrupção? por todos os lados, mas ?pouco se investigou?.
  Nossos adolescentes saberão que ?as privatizações produziram desemprego? e que o país assistia ao aumento da violência urbana e da concentração de renda e à ?diminuição dos investimentos?. E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, ?sem sucesso?.

  Na página seguinte, a luz. Ilustrado com o decalque vermelho da campanha ?Lula Rede Brasil Popular?, o texto ensina que, em 2002, ?pela primeira vez? no país, alguém que ?não era da elite? é eleito presidente. E que, ?graças à política social do governo Lula?, 20 milhões de pessoas saíram da miséria. Isso tudo fez a economia crescer e ?telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados e computadores passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas, que antes estavam à margem desse perfil de consumo?.
   Na leitura seguinte, do livro História geral e do Brasil, da Editora Scipione, o quadro era o mesmo. O PSDB é um partido ?supostamente ético e ideológico? e os anos de Fernando Henrique são o cão da peste. Foram tempos de desemprego crescente, de ?compromissos com as finanças internacionais?, em que ?o crime organizado expandiu-se em torno do tráfico de
drogas, convertendo-se em poder paralelo nas favelas?.

  Com o governo Lula, tudo muda, ainda que com alguns senões. Numa curiosa aula de economia, os autores tentam explicar por que a ?expansão econômica? foi ?limitada?: pela adoção de uma ?política amigável aos interesses estrangeiros, simbolizada pela liberdade ao capital especulativo?; pela ?manutenção,
até 2005, dos acordos com o FMI? e dos ?pagamentos
da dívida externa?.
  O livro História conecte, da Editora Saraiva, segue o mesmo roteiro. O governo Fernando Henrique é ?neoliberal?. Privatizou ?a maioria das empresas estatais? e os US$ 30 bilhões arrecadados ?não foram investidos em saúde e educação, mas em lucros aos investidores e especuladores, com altas taxas de juros?. A frase mais curiosa vem no final: em seu segundo mandato, Fernando Henrique não fez ?nenhuma reforma? nem tomou ?nenhuma medida importante?. Imaginei o presidente deitado em uma rede, enquanto o país aprovava a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), o fator previdenciário (1999) ou o Bolsa Escola (2001).

  No livro História para o ensino médio, da Atual Editora, é curioso o tratamento dado ao ?mensalão?. Nossos alunos saberão apenas que houve ?denúncias de corrupção? contra o governo Lula, incluindo-se um caso conhecido como mensalão, ?amplamente explorado pela imprensa liberal de oposição ao petismo?.

  Sobre a América Latina, nossos alunos aprenderão que o Paraguai foi excluído do Mercosul em 2012, por causa do ?golpe de Estado?, que tirou do poder Fernando Hugo. Saberão que, com a eleição de Hugo Chávez, a Venezuela torna-se o ?centro de contestação à política de globalização da economia liderada pelos Estados Unidos?. Que ?a classe média e as elites conservadoras? não aceitaram as transformações produzidas pelo chavismo, mas que o comandante ?conseguiu se consolidar?. Sobre a situação econômica da Venezuela, alguma informação? Algum dado crítico para dar uma equilibrada e permitir aos alunos que formem uma opinião? Nada.

  Curioso é o tratamento dado às ditaduras da América Latina. Para os casos da Argentina, Uruguai e Chile, um capítulo (merecido) mostrando os horrores do autoritarismo e seus heróis: extratos de As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano; as mães da Praça de Maio, na Argentina; o músico Víctor Jara, executado pelo regime de Pinochet. Tudo perfeito.

  Quando, porém, se trata de Cuba, a conversa é inteiramente diferente. A única ditadura que aparece é a de Fulgêncio Batista. Em vez de filmes como Antes do anoitecer, sobre a repressão ao escritor homossexual Reynaldo Arenas, nossos estudantes são orientados a assistir a Diários de Motocicleta, Che e Personal Che.

  As restrições do castrismo à ?liberdade de pensamento? surgem como ?contradições? da revolução. Alguma palavra sobre os balseiros cubanos? Alguma fotografia, sugestão de filme ou link cultural? Alguma coisa sobre o paredón cubano? Alguma coisa sobre Yoane Sánchez ou as Damas de Branco? Zero. Nossos estudantes não terão essas informações para produzir seu próprio juízo. É precisamente isso que se chama ideologização.

  A doutrinação torna-se ainda mais aguda quando passamos para os manuais de sociologia. Em plena era das sociedades de rede, da revolução maker, da explosão dos coworkings e da economia colaborativa, nossos jovens aprendem uma rudimentar visão binária de mundo, feita de capitalistas malvados versus heróis da ?resistência?. Em vez de encarar o século XXI e suas incríveis perspectivas, são conduzidos de volta à Manchester do século XIX.

  Superar esse problema não é uma tarefa trivial.Há um ?mercado? de produtores de livros didáticos bem estabelecido no país, agindo sob a inércia de nossas editoras e a passividade de pais, professores e autoridades de educação. Sob o argumento malandro de que ?tudo é ideologia?, essas pessoas prejudicam o desenvolvimento do espírito crítico de nossos alunos. E com isso fazem muito mal à educação brasileira.

Artigo escrito pelo filósofo Fernando L. Schüler. Revista Época. Edição de 07 de março de 2016. Número 925

Questão:

Qual é o foco narrativo do texto?

Resposta errada
a) primeira pessoa do plural
Resposta correta
b) primeira pessoa do singular
Resposta errada
c) terceira pessoa do singular
Resposta errada
d) terceira pessoa do plural
Resposta errada
e) segunda pessoa do singular

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