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Comentários / Petrobrás Biocombustível - Economista Júnior - CESGRANRIO - 2010 - Prova Objetiva


Será a felicidade necessária?

1  Felicidade é uma palavra pesada. Alegria é
2  leve, mas felicidade é pesada. Diante da pergunta
3  "Você é feliz?", dois fardos são lançados às costas do
4  inquirido. O primeiro é procurar uma definição para
5  felicidade, o que equivale a rastrear uma escala que
6  pode ir da simples satisfação de gozar de boa saúde
7  até a conquista da bem-aventurança. O segundo é
8  examinar-se, em busca de uma resposta. Nesse processo,
9  depara-se com armadilhas. Caso se tenha
10 ganhado um aumento no emprego no dia anterior, o
11 mundo parecerá belo e justo; caso se esteja com dor
12 de dente, parecerá feio e perverso. Mas a dor de dente
13 vai passar, assim como a euforia pelo aumento de
14 salário, e se há algo imprescindível, na difícil
15 conceituação de felicidade, é o caráter de permanência.
16 Uma resposta consequente exige colocar na balança
17 a experiência passada, o estado presente e a
18 expectativa futura. Dá trabalho, e a conclusão pode
19 não ser clara.
20 Os pais de hoje costumam dizer que importante
21 é que os filhos sejam felizes. É uma tendência
22 que se impôs ao influxo das teses libertárias dos anos
23 1960.
24 É irrelevante que entrem na faculdade, que
25 ganhem muito ou pouco dinheiro, que sejam bem-sucedidos
26 na profissão. O que espero, eis a resposta
27 correta, é que sejam felizes. Ora, felicidade é coisa
28 grandiosa. É esperar, no mínimo, que o filho sinta prazer
29 nas pequenas coisas da vida. Se não for suficiente,
30 que consiga cumprir todos os desejos e ambições
31 que venha a abrigar. Se ainda for pouco, que atinja o
32 enlevo místico dos santos. Não dá para preencher
33 caderno de encargos mais cruel para a pobre criança.
34 "É a felicidade necessária?" é a chamada de
35 capa da última revista New Yorker (22 de março) para
36 um artigo que, assinado por Elizabeth Kolbert, analisa
37 livros recentes sobre o tema. No caso, a ênfase está
38 nas pesquisas sobre felicidade (ou sobre "satisfação",
39 como mais modestamente às vezes são chamadas) e
40 no impacto que exercem, ou deveriam exercer, nas
41 políticas públicas. Um dos livros analisados, de autoria
42 do ex-presidente de Harvard Derek Bok (...) constata
43 que nos últimos 35 anos o PIB per capita dos
44 americanos aumentou de 17.000 dólares para 27.000,
45 o tamanho médio das casas cresceu 50% e as famílias
46 que possuem computador saltaram de zero para
47 70% do total. No entanto, a porcentagem dos que se
48 consideram felizes não se moveu. Conclusão do autor,
49 de lógica irrefutável e alcance revolucionário: se o
50 crescimento econômico não contribui para aumentar
51 a felicidade, "por que trabalhar tanto, arriscando desastres
52 ambientais, para continuar dobrando e redobrando
53 o PIB"?
54 Outro livro, de autoria de Carol Graham, da
55 Universidade de Maryland (...) informa que os
56 nigerianos, com seus 1.400 dólares de PIB per capita,
57 atribuem-se grau de felicidade equivalente ao dos japoneses,
58 com PIB per capita 25 vezes maior, e que os
59 habitantes de Bangladesh se consideram duas vezes
60 mais felizes que os da Rússia, quatro vezes mais ricos.
61 Surpresa das surpresas, os afegãos atribuem-se
62 bom nível de felicidade, e a felicidade é maior nas áreas
63 dominadas pelo Talibã. Os dois livros vão na mesma
64 direção das conclusões de um relatório, também
65 citado no artigo da New Yorker, preparado para o governo
66 francês por dois detentores do Nobel de Economia.
67 (...)
68 Embora embaladas com números e linguagem
69 científica, tais conclusões apenas repisariam o pedestre
70 conceito de que dinheiro não traz felicidade, não
71 fosse que ambicionam influir na formulação das políticas
72 públicas. O propósito é convidar os governantes a
73 afinar seu foco, se têm em vista o bem-estar dos governados
74 (e podem eles ter em vista algo mais relevante?).
75 Derek Bok, o autor do primeiro dos livros,
76 aconselha ao governo americano programas como
77 estender o alcance do seguro-desemprego (as pesquisas
78 apontam a perda de emprego como mais causadora
79 de infelicidade do que o divórcio), facilitar o
80 acesso a medicamentos contra a dor e a tratamentos
81 da depressão e proporcionar atividades esportivas para
82 as crianças. Bok desce ao mesmo nível terra a terra da
83 mãe que trocasse o grandioso desejo de felicidade pelo
84 de uma boa faculdade e um bom salário para o filho.

TOLEDO, Roberto Pompeu. In: Veja, 24 Mar. 2010.

Questão:

As conclusões das pesquisas mencionadas pelo autor parecem mostrar que há uma relação intrínseca entre economia e sensação de felicidade:

Resposta errada
a)

os habitantes de países pobres são mais felizes.

Resposta errada
b)

pessoas que trabalham muito não são mais felizes.

Resposta correta
c)

bom desenvolvimento econômico não traz felicidade.

Resposta errada
d)

o PIB per capita é o principal índice de grau de felicidade.

Resposta errada
e)

há uma relação intrínseca entre economia e sensação de felicidade.

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