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Comentários / TRANSPETRO - Analista de Sistemas Júnior - Software - CESGRANRIO - 2011 - Prova Objetiva


Um pouco de silêncio


        Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do
        barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
        Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar,
        ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma
5       infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras
        impossíveis, algumas que não combinam conos-
        co nem nos interessam.
        Não há perdão nem anistia para os que ficam de
        fora da ciranda: os que não se submetem mas ques-
10      tionam, os que pagam o preço de sua relativa auto-
        nomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos
        sem alguma resistência.
        O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado.
        É indispensável circular, estar enturmado.
15      Quem não corre com a manada praticamente nem
        existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal
        estranho.
        Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela
        opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas
20      determinadas – feito hamsters que se alimentam de
        sua própria agitação.
        Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença.
        Recolher-se em casa, ou dentro de si mesmo, amea-
        ça quem leva um susto cada vez que examina sua
25      alma.
        Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de
        que não se arrumou ninguém – como se amizade ou
        amor se “arrumasse” em loja. [...]
        Além do desgosto pela solidão, temos horror à
30      quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe
        terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou
        salta nem participa de atividades frenéticas está com
        algum problema.
        O silêncio nos assusta por retumbar no vazio
35      dentro de nós. Quando nada se move nem faz baru-
        lho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coi-
        sas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro
        ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não
        somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre
40      casa, trabalho e bar, praia ou campo.
        Existe em nós, geralmente nem percebido e
        nada valorizado, algo além desse que paga contas,
        transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia
        (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é
45      esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos,
        seus projetos e sonhos?
        No susto que essa ideia provoca, queremos ruído,
        ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão
        antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir
50      a um programa: é pela distração.
        Silêncio faz pensar, remexe águas paradas,
        trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso.
        Com medo de ver quem – ou o que – somos, adia-se
        o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
55      Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de
        sossego, descobre – em si e no outro – regiões nem
        imaginadas, questões fascinantes e não necessaria-
        mente ruins.
        Nunca esqueci a experiência de quando alguém
60      botou a mão no meu ombro de criança e disse:
        — Fica quietinha, um momento só, escuta a chu-
        va chegando.
        E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo
        singularmente novo. A quietude pode ser como essa
65      chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro
        ao convívio, às tantas fases, às tarefas, aos amores.
        Então, por favor, me deem isso: um pouco de si-
        lêncio bom para que eu escute o vento nas folhas,
        a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das
70      palavras de todos os textos e da música de todos os
        sentimentos.

LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 41. Adaptado.

Questão:

A explicação correta, de acordo com a norma-padrão, para a pontuação utilizada no texto, é a de que

Resposta correta
a)

a vírgula em “"É indispensável circular, estar enturmado."” (L. 14) indica uma relação de explicação entre os termos coordenados.

Resposta errada
b)

os dois pontos em “"se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho."” (L. 16-17) assinalam a ideia de consequência.

Resposta errada
c)

as aspas em "“(...) 'se ‘arrumasse’' (...)”" (L. 28) acentuam o sentido de organização do verbo “arrumar”.

Resposta errada
d)

os dois pontos em "“(...) pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo"” (L. 30-31) indicam dúvida entre duas possibilidades distintas.

Resposta errada
e)

a vírgula antes do "“e"” em "“transa, ganha dinheiro, e come, envelhece,"” (L. 43) marca a diferença entre dois tipos de enumeração.

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